A bola é uma princesa que muitos admiram e vibram quando ela desfila absoluta pelas passarelas verdes sob os aplausos de um público que se fascina a cada toque de letra, a cada gol de placa que é assinalado pelos seus regentes. Uma bola bem tratada nunca deixa de ser bela, há sempre duas dezenas de craques cuidando dela. Há sempre uma platéia a aplaudir cada lance genial e a vaiar as burradas dos pernas de paus.
No entanto, a bola também carrega consigo mágoas e decepções. Atrás dela não correm só craques. Correm também aqueles que só a identificam porque ela é redonda, mas mesmo assim se atrevem a tocá-la. Entre toques refinados e chutões sem direção a bola permanece viva nos gramados fazendo a alegria do povo e servindo de meio de vida para tantos craques e muitos pernas de paus.
Quantos construíram fortuna graças aos gols de placa, aos dribles desconcertantes que encantaram o mundo? A bola não é simplesmente uma bola. Ela é uma mãe para muitos filhos sem herança material e cultural.
Assim é Miguel Alves. Uma bola que sofre botinadas e bicudas dos seus inveterados pernas de paus que fazem dela um meio para ganhar a vida. Uma bola que sente a falta de um craque que lhe dê atenção e lhe trate com carinho, fazendo com que ela balance a rede e faça a torcida vibrar comemorando a vitória.
Mas quem será esse craque? A torcida procura, e olhando para o time que está em campo vê que não tem um craque capaz de mudar o resultado jogo com uma jogada de gênio. Entretanto, a torcida não desanima, espera pelo menos que os escalados não acabem de vez com a nossa maltratada bola, com bicudas e caneladas, pois ainda tem muito jogo pela frente e todos querem ver um dia a bola ser tratada com carinho e com o devido respeito.